O homem e a cobra

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Certo homem de bom coração encontrou na estrada uma cobra entanguida de frio.

– Coitadinha! Se fica por aqui ao relento, morre gelada.

Tomou-a nas mãos, conchegou-a ao peito e trouxe-a para casa. Lá a pôs perto do fogão.

– Fica-te por aqui em paz até que volte do serviço à noite. Dar-te-ei então um ratinho para a ceia. E saiu.

De noite, ao regressar, veio pelo caminho imaginando as festas que lhe faria a cobra.

– Coitadinha! Vai agradecer-me tanto…

Agradecer, nada! A cobra, já desentorpecida, recebeu-o de linguinha de fora e bote armado, em atitude tão ameaçadora que o homem enfurecido exclamou:

– Ah, é assim? É assim que pagas o benefício que te fiz? Pois espera, minha ingrata, que já te curo…

E deu cabo dela com uma paulada.

Fazei o bem, mas olhe a quem.

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