O sabiá na gaiola

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Lamentava-se na gaiola um velho sabiá.

– Que triste destino o meu, nesta prisão toda a vida… E que saudades dos bons tempos de outrora, quando minha vida era um contínuo pular de galho em galho em procura das laranjas mais belas… Madrugador, quem primeiro saudava a luz da manhã era eu, como era eu o último a despedir-me do sol à tardinha, cantava e era feliz…

Um dia, traiçoeiro visgo me ligou os pés. Esvoacei, debati-me em vão e vim acabar nesta gaiola horrível, onde saudoso choro o tempo da liberdade. Que triste destino o meu! Haverá no mundo maior desgraça?

Nisto abre-se a porta da sala e entra o caçador, de espingarda ao ombro e uma fieira de pássaros na mão.

Ante o espetáculo das míseras avezinhas estraçalhadas a tiro, gotejantes de sangue, algumas ainda em agonia, o sabiá estremeceu e horripilado verificou não ser dos mais infelizes, pois que vivia e ainda não perder a esperança de recobrar a liberdade de outrora.

Refletiu sobre o caso e murmurou consigo:

– Antes penar que morrer.

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